Trabalho

Linha que pertence Helena: construções e contradições

O romance Helena – inicialmente Helena do Vale –, pertence à chamada fase romântica da obra machadiana, porque essa obra ainda se mantém presa aos moldes tradicionais do romance romântico, correspondendo às expectativas de um público burguês, principalmente feminino, amante das narrativas melodramáticas, divulgadas pelos periódicos. Seguindo essa linha, o autor vai desenvolver um tema muito explorado entre os escritores românticos: a obsessão pelo amor impossível ou sacrílego, tornado proibido por leis morais e sociais, que só se resolve na renúncia total à felicidade ou na morte.
A trama do romance Helena é acidentada, constituindo uma exceção na sobriedade dos enredos machadianos. É sua única narrativa longa verdadeiramente romanesca e pode do ponto de vista da surpresa e do suspense, ser considerada uma obra bem realizada. O livro narra desventuras de uma moça pobre que o destino coloca como falsa herdeira de uma família rica mediante um testamento deixado pelo Conselheiro Vale: ele declarava reconhecer uma filha natural, de nome Helena, havida com D. Ângela de Soledade, nomeando-a herdeira da parte que lhe tocasse de seus bens.
Ela deveria ir viver com a família do Conselheiro a quem ele pedia que a tratasse com desvelo e carinho. Helena sustenta o equívoco, mas não consegue tirar proveito da situação, apaixonando-se por Estácio, seu suposto irmão. Decorre daí um enredo envolvente: a história passa-se na chácara do Conselheiro Vale, no bairro da Tijuca e freqüentam a casa o médico
Camargo (pai de Eugênia, que é namorada de Estácio) e padre Melchior.
Estácio aceita logo as disposições do testamento: “Esta casa é tão sua quanto nossa; faça de conta que nascemos debaixo do mesmo teto. Minha tia lhe dirá o sentimento que nos anima a seu respeito”. (ASSIS, 1998, p. 27).
D. Úrsula, tia de Estácio, e as outras pessoas da casa relutam em aceitar a moça na família: “As pessoas da intimidade da casa acolheram