Trabalho e Labor
Para Arendt (2005), em A condição humana, o surgimento do consumismo como comportamento coletivo estaria condicionado à industrialização em larga escala, com a Revolução Industrial. Por meio desta, os compradores seriam incentivados a se relacionarem com os objetos de uma forma distinta daquela vivida até então: deveriam comportar-se como se pudessem acompanhar a produção crescente de mercadorias, substituindo antigos objetos por novos.
Em outras palavras, os compradores não deveriam mais ver seus bens como duráveis. Daí a palavra consumo, que, para Arendt (2005), significa a abreviação do tempo de uso das mercadorias. Desse modo, para esta autora, teríamos passado da existência do que ela denominou homo faber, o homem que produz objetos para enriquecer o mundo, bens que devem ser comprados pela sua utilidade e durabilidade culturais, para o animal laborans, aquele que vê os objetos como descartáveis e se relaciona com eles tal como se relaciona com os alimentos, consumindo-os. Tal mudança não se faz difícil de ser percebida: nossos avós e bisavós compravam objetos para que eles enriquecessem a vida familiar, fosse para o conforto, fosse para a viabilização de necessidades básicas. Eles não eram vistos como descartáveis ou substituíveis tal como os concebemos em larga escala em nossos dias.
No cenário pós-moderno, substituímos velozmente os objetos que compramos e, mal nos acostumamos com eles, já ouvimos alguém dizer que existe outro melhor e que devemos vendê-lo ou nos desfazermos dele. No entanto, não consumimos objetos, mas os compramos. Não devoramos objetos materiais tal como o fazemos com alimentos, que são metabolizáveis. Assim, aceitar que consumimos objetos significa aceitar que devemos abreviar seu tempo de utilização e determinar um prazo de validade bastante curto - ou seja, de um modo que os faça ter um ciclo muito breve de participação em nossas vidas.
Para Arendt (2005), o mais danoso para a cultura teria sido a substituição do