TRabalho tematico
Lygia Fagundes Telles conserva ainda a vivacidade e o entusiasmo, embora conte atualmente 80 anos. Lúcida, simpática e bem disposta não se nega a dar uma entrevista e seus olhos brilham quando fala de Literatura. Sua voz doce e pausada não envelheceu. Ao ouvi-la parece que ouvimos a Lygia jovem que fala lá do passado, de quando começou a escrever. Faz parte dos grandes nomes da literatura brasileira e o romance As Meninas, detentor de vários prêmios literários, é considerado o ápice de seu amadurecimento literário.
Apesar de seu caráter intimista e psicológico trata-se, também, de um romance engajado que aborda o cotidiano de três jovens universitárias - Ana Clara, Lorena e Lia - durante a década de 70, auge da ditadura militar.
O militarismo reinante na época impunha seus valores rígidos à sociedade civil estendendo-se para fora do exército e alcançando famílias, empresas e instituições. O modelo patriarcal se repetia nas famílias, nas quais havia a figura do patriarca, que comandava a família, bem como nas empresas, havia uma forte hierarquia a ser seguida.
Entretanto, a década de 70 foi também um período de grande contestação e efervescência cultural e social. O mundo estava sendo chacoalhado pela guerra do Vietnã, pela explosão do rock and roll, o movimento hippie, os movimentos anti-raciais, como os Panteras Negras nos Estados Unidos, o movimento feminista no Brasil e, principalmente, os movimentos de esquerda, que enfrentaram de todos os modos a ditadura.
Interessa-nos o movimento feminista da década de 70, pois pretendemos abordar o casamento sob a ótica feminista. Nossas 3 protagonistas são jovens universitárias vivendo um momento de ruptura dentro desse mundo patriarcal que começa a ser questionado.
Representam uma pequena parcela de mulheres privilegiadas com poder de escolha sobre questões cruciais à época - casamento, virgindade, carreira universitária, independência financeira e controle da natalidade. A pílula anticoncepcional