Trabalho Patrick
Pesquisadores chineses usaram técnica de edição genética para alterar uma parte do DNA que causa doenças hereditárias. O estudo levanta sérias questões éticas na comunidade científica
Embrião humano de 40 dias: em laboratório, os chineses modificaram os genes nesse estágio de desenvolvimento.
Pela primeira vez, cientistas criaram embriões humanos geneticamente modificados.
Usando a técnica CRISPR/Cas9 - pela qual partes do DNA podem ser recortadas, copiadas e deletadas como se fosse arquivos digitais de computadores -, uma equipe de pesquisadores chineses modificou o gene que causa a talassemia beta, doença hereditária que origina anemias graves e pode ser fatal. Recusada por periódicos científicos de renome (a exemplo da Science e da Nature) por seu teor polêmico, a pesquisa foi publicada na obscura
Protein & Cell na semana passada.
De acordo com o artigo, os cientistas liderados por Junjiu Huan, da Universidade Sun
Yat-sen, em Guangzou, usaram embriões "não-viáveis" obtidos em clínicas de fertilização e que, de toda forma, seriam descartados. E não foram implantados em úteros humanos. Com a técnica CRISPR/Cas 9, que ganhou fama em 2013 e foi usada com sucesso no ano seguinte para criar macacos transgênicos
, os cientistas editaram o gene HBB, no cromossomo 11, causador da talassemia beta. A técnica consiste em um
"recorta-e-cola", pelo qual alguns genes são substituídos por outros sem a alteração genética maléfica.
A equipe fez isso em 86 embriões, dos quais 71 sobreviveram ao processo invasivo. Os testes mostraram que em apenas 28 deles a técnica foi bem-sucedida e, destes, uma fração muito reduzida continha o material genético correto. Em outras palavras, só uma pequena parcela dos embriões gerariam humanos com vidas saudáveis, não afetadas pelas alterações do
CRISPR/Cas 9. "Se quisermos fazer isso para valer, em pessoas, precisamos estar perto de
100% de sucesso", disse Huang à