Trabalho maquiavel
Adriana Moreira∗
Era uma vez um hacker que tinha uma “farpa na mente”, um questionamento ininterrupto, e que escondia softwares piratas em um livro de fundo falso. Seu nome é Thomas Anderson1 , um competente analista de sistemas de informática, que nas horas vagas atua como hacker de nickname Neo e pesquisa em busca da resposta para uma pergunta que constantemente o intriga: O que é a Matrix?2 . A publicação é do filósofo francês Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação – uma obra pós-moderna sobre a erosão do real e o seu deslocamento, escrita por um
Mestranda na Universidade Católica Portuguesa. Algumas analogias devem ser consideradas em relação à personagem interpretada por Keanu Reeves. Thomas faz alusão a Tomé, conhecido como o duplo de Jesus – no simbologismo, conhecer o gêmeo é conhecer o nosso reflexo, nosso interior (conhece-te a ti mesmo). O evangelho segundo Tomé, de texto gnóstico, afirma que o reino de Deus é agora, lembrando que Deus é entendido pelos budistas como “libertar-se da ilusão”. O sobrenome Anderson (Ander – andros e son – filho) vem de “filho do homem”, uma das formas as quais Jesus se autodenominou. 2 O tema corre o submundo hacker através der Morpheus, um hacker perigoso que incita o questionamento, “resgatando” rebeldes potencias que posteriormente são “desplugados” da Matrix através da ingestão da pílula vermelha. No momento em que Neo faz a sua escolha entre a pílula azul e a vermelha, Morpheus o informa: “A pílula que tomou é parte de um programa, ela interrompe seus sinais portadores para que possamos localizá-lo” O papel de Morpheus é o de encontrar o messias, o “Escolhido”.
1 ∗
autor polêmico e um crítico contumaz da cibercultura. A “farpa na mente” de Neo, a sua dúvida e angústia são esclarecidas por Morpheus no primeiro diálogo entre as duas personagens: Morpheus: Finalmente, bem-vindo, Neo; como você deve ter adivinhado, eu sou Morpheus. Neo: É uma honra conhecê-lo. Morpheus: Não, a hora é minha,