Trabalho infantil
Aula Inaugural 12
Que bom estarmos dialogando com educadoras e educadores da infância e da adolescência. E que bom falar sobre eles, e falar sobre nós, educadoras e educadores da infância. Sempre que falamos da infância, falamos de nós, e sempre que falamos de nós, temos que falar da infância e da adolescência com que trabalhamos.
O Estatuto da Criança e da Adolescência na Escola
Vamos falar sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente na escola. Eu gostaria de começar, colocando esta pergunta: Quando chega o ECA, em que momento a escola estava? Em que momento nós, docentes, estávamos? Eu acho que estávamos num momento em que havia certa resistência ao reconhecimento da infância e adolescência como sujeitos de direitos. Não porque os professores resistissem a reconhecer a infância e adolescência como sujeitos de direitos. A resistência estava na própria escola. Estava no currículo.
A escola e o currículo estavam pensados para preparar a criança e o adolescente como se fosse uma mercadoria para o trabalho. Esta visão do aluno como mercadoria a ser preparada, qualificada para o trabalho, nos afastava, nos distanciava da idéia do aluno como sujeito de direitos. Por outro lado, nós pensávamos a criança não como criança, mas como futuro adulto. Eu diria que nós tínhamos dificuldade de ver em cada rosto de criança ou de adolescente, uma criança ou um adolescente.
Víamos um adulto. Quando chegasse este adulto, teria direitos. Mas e enquanto criança? Essa era a realidade que nós vivenciávamos quando chega o ECA. Quando ele chega, cria um certo impacto e em alguns professores, uma certa rejeição. “A criança ter direitos? A criança tem que aprender deveres. Se nós deixamos a criança como sujeitos de direitos, vai nos complicar”.
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Miguel Arroyo é mestre em Ciência Política e doutor em Educação. Atualmente é professor titular emérito da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas