trabalho escolares
Maria Cecília Cortez Christiano de Souza
Os gregos antigos, segundo Nietzsche, foram os primeiros a reconhecer que a sobrevivência humana depende do mito e da poesia . Face ao absurdo da existência, à multiplicação exponencial do sofrimento e da necessidade, diante da consciência da aniquilação iminente, era preciso aos mortais um tempo, projetado adiante, que compreendesse o passado, o presente e o futuro, no qual a eternidade assegurasse de algum modo os sentidos possíveis da existência. A idéia é que os poetas, ouvindo a voz das musas que ressoava no seu interior, eram seres capazes de decifrá-los. Os mitos, que cercavam o mundo dos deuses e heróis, constituíam assim formas de organizar e compreender o universo, maneiras de encaminhar as questões humanas de sempre, respondidas através de histórias cujo sentido, sempre aberto, podia ser interpretado de diferentes maneiras e em diversos níveis de profundidade. E como o universo, para eles, encerrava mistérios que ultrapassavam a capacidade humana de entendimento, os atalhos do absurdo sagrado não podiam ser percorridos por meio da razão, apenas pela poesia. Esse aspecto indecifrável do cosmos é representado pelo deus Dioniso.
Ignorantes do futuro e submersos no presente, temos até hoje que adivinhar indícios de sentido nas entranhas do passado. Hoje, talvez, não podemos fazer uma idéia completa de Dioniso, temos só um Dioniso despedaçado, como diz Nietzsche, porque o passado só nos chega aos fragmentos. Vernant chama atenção para a característica polútropos de Dioniso, termo grego que pode ser traduzido como “multifacetado”. Trata-se de um deus estranho, contraditório – os gregos acreditavam que ele fosse a essência da alteridade.
Dioniso era um deus ímpar, em nada parecido com outros deuses, e não é por acaso que Jean Pierre Vernant o chama de o deus do outro. No mundo grego, onde as divindades se movimentavam dentro de certa ordem que compunha o cosmos, existia um