Trabalho - Diversos
Em uma das passagens, Ivan Fiodorovitch Karamazov, um intelectual atormentado pelo próprio conhecimento, declara que se Deus não existisse, e os princípios da religião pudessem ser desconsiderados, os homens não sentiriam a mínima obrigação de amar o próximo, uma vez que o sentimento de amor universal se ampara sobre a crença na imortalidade, e que não há nenhuma lei natural que faça com que o homem tenha empatia por seus semelhantes.
“Mais a frente no livro, o mesmo personagem propõe uma nova hipótese, oposta à primeira, segundo a qual a negação de Deus e a descrença nas religiões abririam espaço para um novo tempo para os homens.” Quando a humanidade, sem exceção, tiver renegado Deus (e creio que esse dia virá), então cairá por si só, sem antropofagia, toda a velha concepção de mundo e, principalmente, toda a velha moral, e começará o inteiramente novo. Os homens se juntarão para tomar da vida tudo o que ela pode dar, mas visando unicamente à felicidade e à alegria neste mundo. O homem alcançará sua grandeza imbuindo-se do espírito de uma divina e titânica altivez, e surgirá o homem-deus. Vencendo, a cada hora, com sua vontade e ciência, uma natureza já sem limites, o homem sentirá assim e a cada hora um gozo tão elevado que este lhe substituirá todas as antigas esperanças no gozo celestial. Cada um saberá que é plenamente mortal, que não há ressurreição, e aceitará a morte com altivez e tranquilidade, como um deus. Por altivez compreenderá que não há razão para reclamar de que a vida é um instante, e amará seu irmão já sem esperar qualquer recompensa. “O amor satisfará apenas um instante da vida, mas a simples consciência de sua fugacidade reforçará a chama desse amor tanto quanto ela antes se dissipava na esperança de um amor além-túmulo e infinito.” – (página 840 da 34ª