Trabalho de Sociologia II
A radicalidade com que Florestan Fernandes assumiu a condição humana o levou a assumir também radicalmente as atividades em que se empenhou aí incluída a ação docente.
Por certo, como ele próprio frisou com diferentes oportunidades, Florestan não era um pedagogo e nem mesmo um cientista da educação no sentido especializado que essas expressões adquiriram no século atual. Contudo, o senso de radicalidade já referido levou-o, a partir da experiência de sua própria formação e passou a liderar como professor, a atuar como um verdadeiro educador, isto é, aquele que pratica a educação com a consciência clara de que a está praticando. Tomando em conta a sua trajetória não será difícil encontrar elementos que ilustram o que foi dito.
Em outro momento, ao se referir ao que considera o "período mais fermentativo" de sua formação destaca duas atividades ligadas diretamente ao que fazia como professor e pesquisador na USP: "o ensino de sociologia e a pesquisa sociológica dobraram o meu rude individualismo, forçando-me a travar as últimas batalhas que assinalam o aparecimento de uma segunda natureza humana dentro de mim, a qual se confunde com o 'professor' e o 'sociólogo' em que me converti inteiramente voltado para fora, para os 'problemas dos outros', os 'dilemas de nossa época' e o 'controle racional da mudança social'" (Ibid. 171).
Tal entendimento corresponde inteiramente ao efeito produzido pelo trabalho de mestrado de Florestan em sua formação de pesquisador, como se constata através da avaliação feita por ele mesmo: "Descobri que nenhum sociólogo é capaz de realizar o seu ofício antes de percorrer todas as fases de um projeto de investigação completo, no qual transite do levantamento de dados à sua crítica e à sua análise e, em seguida, ao tratamento interpretativo propriamente dito" (Fernandes, 1977:175).
Quando Florestan Fernandes completava o seu processo de iniciação à ciência sociológica, convertendo-se de aprendiz de sociólogo em sociólogo