Trabalho de Lit
Vizinho – A missa do galo começa à meia-noite, como vamos?
Nogueira – Não pretendo dormir até lá, quando for hora, posso acordá-lo.
Era noite de Natal de 1861 ou 62, Nogueira, aos dezessete anos, vindo de Mangaratiba para o Rio de Janeiro com o intuito de estudar preparatórios, estava hospedado na casa do escrivão Meneses, casado com Conceição, senhora de trinta anos, e havia combinado de ir à missa do galo com o vizinho, uma vez que nunca havia assistido “a missa do galo na Corte”, privilégio de grandes cidades.
A família que o acolhera era pequena e de velhos costumes, às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Meneses, por sua vez, costumava dormir uma vez por semana fora de casa, pois trazia amores com uma mulher separada do marido, e aquele era um dos tais dias. Conceição tinha consciência de sua situação e a aceitava, resignada. Um dos maiores motivos para que a chamassem de “santa”.
/ONZE HORAS/
Conceição – Ainda não foi?
N – Não fui; parece que ainda não é meia-noite.
C – Que paciência!
N – Eu a acordei sem querer?
C – Não! Qual! Acordei por acordar.
N – Mas a hora já há de estar próxima.
C – Que paciência a sua de esperar acordado, enquanto o vizinho dorme! E esperar sozinho! Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o romance dos “Mosqueteiros”.
N – Justamente: é muito bonito.
C – Gosta de romances?
N – Gosto.
C – Já leu “A Moreninha”?
N – Do Dr. Macedo? Tenho lá em Mangaratiba.
C – Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por falta de tempo.
...
N – D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...
C – Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo, são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia?
N – Já tenho feito isso.
C – Eu, não; perdendo uma noite, no outro dia estou que não passo, e, meia hora que seja, hei de passar pelo sono. Mas também estou ficando velha.
N – Que velha o quê, D. Conceição!
...
C – Que