Tigá
Margareth Rago - UNICAMP
O possível não preexiste, ele é criado pelo acontecimento. É uma questão de vida. Deleuze
Se discutimos, aqui, o tema da produção de subjetividades libertárias, se buscamos, nesse importante Seminário, caminhos para realizar esses desejos de transformação de nosso mundo, é inevitável agregar um outro adjetivo à palavra subjetividade, aquele que remete à palavra filoginia, em geral, tão ausente de nosso vocabulário cotidiano.[1] Estamos cansadas de comportamentos, idéias, raciocínios, práticas e pessoas misóginas. Embora não estivesse voltado para as questões específicas do feminismo, a busca de uma vida não-fascista marca a trajetória de Michel Foucault e seu esforço maior dirige-se, em especial, a problematizar nossa atualidade, estranhando o que somos e abrindo novas possibilidades de constituição de subjetividades éticas, ou de “devires revolucionários”, na expressão de Deleuze. Como um velho anarquista, Foucault rejeita tudo aquilo que nos liga ao poder, “o inimigo maior, o adversário estratégico: o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora”, como afirma num prefácio ao livro de Deleuze e Guattari (FOUCAULT, 1977). Assim, pergunta pelos caminhos de construção das relações de si para consigo e para com os outros, que escapam às estratégias disciplinares, distantes também de uma concepção do indivíduo cindido em seu próprio eu, aquele em que a alma tem primazia sobre o corpo, como no cristianismo. Diz ele:
é talvez uma tarefa urgente, fundamental, politicamente indispensável a constituição de uma ética de si, se é verdade afinal que não há outro ponto, primeiro e último, de resistência ao poder político para além da relação de si para consigo (FOUCAULT, 2001, 241).
Sabemos que os projetos revolucionários do passado