The Boy Who Waited

E amanhece de novo. O sol me acorda timidamente, com toda a sua luz e vigor, mesmo nessa manha gelada. Consigo ouvir o melodioso canto dos pássaros lá fora, e em certos dias isso me alegra, noutros me enfurece de maneira inacreditável, por que me parece que estas criaturinhas não estão a par da real situação que se passa no momento. Isso provavelmente se deve ao fato de que os pássaros apenas existem, e nós humanos necessitamos viver, somos seres em necessidade patológica de estímulos, sempre quanto mais, melhor. Como podem cantar, como entoar tal canto, em eras que a felicidade é luxo para poucos ? Me faço essa mesma pergunta frequentemente, e vivo pelo dia que acharei a resposta e poderei cantar baixinho junto a eles. Em manhãs como essa ficaria aqui deitado por mais uns minutos pensando e remoendo memórias de dias melhores, mas hoje não, percebi que isso nada mais faz do que me machucar, preciso parar de lembrar de tais dias e focar em criar novos.
Me levanto do saco de dormir, e meu deus, como essa coisa fede. Me impressiona que mesmo depois de tanto tempo essas pequenas coisas ainda me incomodem. O local aonde havia dormido era uma casa abandonada que ficava na parte mais afastada da cidade, e dentro dela consigo imaginar como era luxuosa quando alguem ainda vivia dela. Aquela mesa que agora estava podre e destroçada devia ficar carregada de comida nas ceias de natal, carnes e tudo aquilo que nem me lembro mais, o sofá de couro preto desbotado e rasgado com certeza devia ser muito melhor que o meu velho saco de dormir, e os quadros de arte abstrata, algo que na verdade nunca entendi muito bem, jaziam destroçados ao chão, e provavelmente deviam se unir esplendidamente junto a parede vermelha da sala.
Escuto um estalar de fogueira do lado de fora, acho que o café da manha está em preparo.
Passo pela porta quebrada, a qual parte agora arde nas chamas da fogueira, e la está Jane, uma mulher de estatura baixa e ruiva de pele branca como a neve, e muito gentil,