ALMAS ILUMINADAS Aprender a ler, para João e Maria, que celebram bodas de ouro este ano, é ver melhor a vida. MARCELO ABREU DA EQUIPE DO CORREIO Em fevereiro, Maria Gomes de Jesus foi renovar a carteira de identidade do idoso. Queria uma foto mais recente. Lá o atendente não teve paciência com a demora da mulher em assinar o nome. Ela havia errado a segunda cédula. Não conseguia escrever o sobrenome Gomes. Irritado, o rapaz lhe disse em alta voz: “Não tenho tempo para ficar a disposição da senhora. Se não sabe escrever, não posso fazer nada. Tem muita gente esperando para ser atendida”. Nervosa, ela não deu conta de assinar o nome inteiro. Com letra desalinhada, escreveu apenas Maria de Jesus. Era o que sabia. A mulher de 66 anos saiu daquele lugar em lágrimas. A vergonha de não saber escrever o seu próprio nome lhe corroeu. Humilhou-a. Foi dor de doer na alma. O marido de 71 anos, que havia ido junto, consolou-a. Em silêncio, abraçou-a e compreendeu a desolação da mulher. Nesse dia, nem vontade de cozinhar ela teve. Ele a compreendeu. Maria Gomes de Jesus e João Gomes Brasil não sabiam ler nem escrever. Essa história é a síntese da vontade de uma mulher em mudar de vida. Mesmo depois de tanta vida vivida. E de como a indignação pode transformar em salvação. Maria se salvou. E o fez por meio das suas próprias mãos, ainda incrédulas ao pegar o lápis e ver o que é capaz de fazer. E levou João para a mesma experiência. Foi a melhor catar-se de suas vidas. “To me sentido uma menininha, de tanta alegria”, exulta ela. Ele deixa escapar. “Quando a gente não sabe as coisas, é como se o mundo se fechasse. Aprender a ler mudou nossa vida para melhor”. Primeiros passos Maria chamou o marido e, juntos, foram a Faculdade Jesus Maria José, perto de casa onde moram e se matricularam em uma turma voluntária para a educação de jovens e adultos. No dia 27, finalmente, as aulas começaram. Maria e João deram