Texto SC Parte 2
Na aurora do séc. XX, a tese da inocência infantil concebida desde a metade do séc. XVIII e fortalecida pela igreja no séc. XIX foi revirada por Freud que, ao contestar as concepções usuais sobre a sexualidade e afirmar a existência da sexualidade infantil, dá início a um debate que ainda não cessou.
A opinião popular tem idéias muito precisas a respeito da natureza e das características desse instinto sexual. A concepção geral é que ele está ausente na infância, que se manifesta na ocasião da puberdade em relação com o processo de chegada da maturidade e se revela nas manifestações de uma atração irresistível exercida por um sexo sobre o outro; quanto ao seu objetivo, presume-se que seja a união sexual, ou pelo menos atos que conduzam nessa direção. Temos, entretanto, razão para crer que esses pontos de vista dão uma idéia falsa da verdadeira situação. (Freud, (1905) 1972 p. 135)
Talvez nenhum outro campo mostre mais claramente o impacto que causou. Ao considerar Real o psíquico e buscar uma determinação que seus contemporâneos atribuíam apenas à física, Freud (1950[1892-1899]) realiza uma transformação drástica no entendimento da infância enquanto tempo da constituição psíquica. Ao levar a sério a frase do poeta inglês Willian Wordsworth “A criança é o pai do homem” Freud ([1913] 2001), sem dúvida, atribuiu a infância uma valor essencial na constituição da pessoa, não como etapa, mas ao contrário para afirmar sua continuidade. O que se constata pela importância da sexualidade infantil em psicanálise: “Começa a delinear-se uma fórmula que estabelece que a sexualidade dos neuróticos permanece num estado infantil ou é trazida de volta a ele.”(Freud,(1905)1972 p. 175)
A especificidade da elaboração psicanalítica sobre este tempo propriamente humano não se confunde com a de nenhum outro campo de saber e a elaboração da noção de infantil, que se fará continuamente ao longo de seus escritos, demarcará seu afastamento e diferirá da