Texto PELISSARI 1998 Di Rio De Campo Instrumento De Registro
O DIÁRIO DE CAMPO COMO INSTRUMENTO DE REGISTRO
Maria A. Pelissari
1. Uma perspectiva genérica
A expressão “diário de campo” refere-se a uma maneira de registrar os acontecimentos presenciados e vividos. É um recurso metodológico individual e pessoal, que no conhecimento e/ou reconhecimento de uma situação específica, ou contexto, retrata o que se olha, como se olha e o que faz (ou poderia fazer) com o que está olhando.
O que se olha: aquilo que é capturado pelo equipamento sensorial.
O sensível, o aparente, o empírico, o dado objetivo que é passível de ser descrito. Via de regra, pelo adestramento de um processo civilizatório, a visão é quem comanda a descrição... mas olhar é mais do que ver.
Como se olha: No processo de conhecimento de uma realidade, um dado por mais desconhecido que seja, é convertido, em algo familiar a fim de que seja possível se relacionar com ele, entendê-lo. De certo modo assim já se produz um conhecimento, um saber sobre algo desconhecido aproximando-o do que já se conhece. Com isto, esse dado objetivo é também subjetivo porque adquire sentido, significado a partir de experiências, opiniões, recursos pessoais, anteriormente interiorizados, por aquele que olha.
O que se faz com o que olha: Por se tratar de um dado imediato, capturado pelos sentidos e ancorado em conhecimentos experienciais, imagens sociais (porque dotadas de sentido em um universo cultural) o que é olhado é pré-concebido e até reificado.
1
O que se olha pode ser ou apenas descrito, ou pode ser narrado.
Como no ato de escrever sobre os dados mesclam-se o sentido e o significado que eles têm para nós, pode-se dizer que a objetividade e a subjetividade integram-se na narrativa.
Isto significa que o “diário de campo” contém tanto os dados imediatamente vistos como aquilo que se faz (subjetivamente) com o que é visto. O que é visto pode estar adestrado, pode estar orientado pelo pré-conceito e pelo conhecimento teórico que se tem das coisas. É, portanto,