Texto Para Teoria Do Conhecimento
Maurício Abdalla
1. Kant e o idealismo alemão
A grande contribuição de Kant para o pensamento moderno foi ter postulado o sujeito como elemento ativo e inextricavelmente vinculado ao processo de conhecimento. A necessidade e universalidade das proposições (características que as tornavam verdadeiras) não podiam provir da experiência de fatos ou coisas singulares, conforme Hume já havia argumentado. Por isso, Kant atribui ao sujeito (compreendido como subjetividade em si e não como sujeitos individuais) a posse de ideias puras a priori que dariam forma aos dados da intuição sensível e possibilitariam o pensamento conceitual daquilo que é recebido pelos sentidos – donde se distinguem a sensibilidade (a receptividade para as representações do mundo exterior) e o entendimento (a espontaneidade da razão subjetiva para pensar as representações em conceitos).
As duas espécies de ideias puras a priori (as formas da sensibilidade e as categorias do entendimento) são absolutamente desvinculadas de qualquer relação empírica e não existem no mundo externo, pertencendo, então, exclusivamente à razão subjetiva. No entanto, ambas são essenciais para a experiência e, como tais, são condições de possibilidade da ciência e do conhecimento do mundo. A objetividade do conhecimento, neste caso, passa a ser dada na relação do sujeito com o objeto e não na simples representação, no sujeito, de um mundo existente em si ou na clareza e distinção das ideias inatas na mente – como pensavam, respectivamente, o empirismo e o racionalismo.
A importância da transformação que Kant introduz na filosofia não é pequena. Primeiro, trata-se de um deslocamento das condições de verdade do objeto para o sujeito cognoscente em sua relação com o mundo exterior (a coisa em si, que em Kant é incognoscível fora da relação com o sujeito determinado pelas ideias a priori). A crítica efetuada por Kant é dirigida à razão como elemento central do processo do conhecimento e,