texto par teatro
Personagens
Boca de ouro
Dentista
Secretário
Caveirinha
Repórter
Fotógrafo
D. Guigui
Agenor
Leleco
Celeste
Preto
Primeira grã-fina
Segunda grã-fina
Terceira grã-fina
Maria Luísa
Locutor
Morador
PRIMEIRO ATO
(“Boca de Ouro”, banqueiro de bicho, em Madureira, é relativamente moço e transmite uma sensação de plenitude vital. Homem astuto, sensual e cruel. Mas como é uma figura que vai, aos poucos, entrando para a mitologia suburbana, pode ser encarnado por dois ou três intérpretes, como se tivesse muitas caras e muitas almas. Por outras palavras: diferentes tipos para diferentes comportamentos do mesmo personagem. Ao iniciar-se a pela, “Boca de Ouro” ainda não tem o seu nome legendário. Agora é que, com audácia e imaginação, começa a exterminar os seus adversários. Está sentado na cadeira do dentista.)
BOCA DE OURO - Pronto?
DENTISTA - Pode sair.
BOCA DE OURO - Que tal, doutor?
DENTISTA - Meu amigo, está de parabéns!
BOCA DE OURO (abrindo o seu riso largo de cafajeste) – Acha?
DENTISTA - Rapaz, te digo com sinceridade: nunca vi, em toda a minha vida – trabalho nisso há vinte anos – e nunca vi, palavra de honra, uma boca tão perfeita!
BOCA DE OURO - Batata?
DENTISTA - Dentes de artista de cinema! E não falta um! Quer dizer, uma perfeição!
(Sente-se em “Boca de Ouro” uma satisfação de criança grande)
BOCA DE OURO - Sabe que quando eu vejo falar em dor de dentes, fico besta/ nunca tive esse troço!
DENTISTA - Lógico.
BOCA DE OURO - Pois é, doutor. Agora vou me sentar, outra vez, porque eu queria um servicinho seu, caprichado, doutor!
DENTISTA - Na boca?
BOCA DE OURO - Na boca.
DENTISTA - Meu amigo, é um crime mexer na sua boca!
BOCA DE OURO - Mas o senhor vai mexer, vai tirar tudo. Tudo, doutor!
DENTISTA (no seu assombro) – Tirar os dentes?
BOCA DE OURO - Meus dentes. Os 32 – são 32? -, pois é: os 32 dentes!