texto par teatro

17967 palavras 72 páginas
BOCA DE OURO

Personagens

Boca de ouro

Dentista

Secretário

Caveirinha

Repórter

Fotógrafo

D. Guigui

Agenor

Leleco

Celeste

Preto

Primeira grã-fina

Segunda grã-fina

Terceira grã-fina

Maria Luísa

Locutor

Morador

PRIMEIRO ATO

(“Boca de Ouro”, banqueiro de bicho, em Madureira, é relativamente moço e transmite uma sensação de plenitude vital. Homem astuto, sensual e cruel. Mas como é uma figura que vai, aos poucos, entrando para a mitologia suburbana, pode ser encarnado por dois ou três intérpretes, como se tivesse muitas caras e muitas almas. Por outras palavras: diferentes tipos para diferentes comportamentos do mesmo personagem. Ao iniciar-se a pela, “Boca de Ouro” ainda não tem o seu nome legendário. Agora é que, com audácia e imaginação, começa a exterminar os seus adversários. Está sentado na cadeira do dentista.)

BOCA DE OURO - Pronto?

DENTISTA - Pode sair.

BOCA DE OURO - Que tal, doutor?

DENTISTA - Meu amigo, está de parabéns!

BOCA DE OURO (abrindo o seu riso largo de cafajeste) – Acha?

DENTISTA - Rapaz, te digo com sinceridade: nunca vi, em toda a minha vida – trabalho nisso há vinte anos – e nunca vi, palavra de honra, uma boca tão perfeita!

BOCA DE OURO - Batata?

DENTISTA - Dentes de artista de cinema! E não falta um! Quer dizer, uma perfeição!

(Sente-se em “Boca de Ouro” uma satisfação de criança grande)

BOCA DE OURO - Sabe que quando eu vejo falar em dor de dentes, fico besta/ nunca tive esse troço!

DENTISTA - Lógico.

BOCA DE OURO - Pois é, doutor. Agora vou me sentar, outra vez, porque eu queria um servicinho seu, caprichado, doutor!

DENTISTA - Na boca?

BOCA DE OURO - Na boca.

DENTISTA - Meu amigo, é um crime mexer na sua boca!

BOCA DE OURO - Mas o senhor vai mexer, vai tirar tudo. Tudo, doutor!

DENTISTA (no seu assombro) – Tirar os dentes?

BOCA DE OURO - Meus dentes. Os 32 – são 32? -, pois é: os 32 dentes!

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