Texto Literário
A meu cunhado Macrino
-"Ela é de gelo"- a multidão dizia,
Vendo o seu modo calmo e retraído:
-"Não lhe notais, no riso indefinido,
Alguma coisa horrivelmente fria?"
"Até o próprio sol, se ousasse um dia
Beijar-lhe o branco talhe do vestido,
Em montanha de neve convertido,
O azul do espaço, em breve, deixaria."
Uma noite, porém, vi-a chorosa,
Osculando fanada, murcha rosa
Que apertava de encontro ao coração.
Adivinhei que o gelo era aparente,
Que, sob a neve, palpitava ardente
A lava incandescente de um vulcão.
Santa Luzia, 20 de Novembro de 1899. A noite cai
A meu querido tio
Tito Magalhães da Silva Porto
A noite cai, nostálgica, sombria,
Triste como um adeus — por sobre a terra.
Que funda mágoa, que mistério encerra
Seu pranto feito da geada fria?
Noiva do sonho, a demandar um beijo
Erra, por entre as nuvens, sonolenta;
Segue-lhe os passos, nessa marcha lenta,
Das estrelas o pálido cortejo.
Aos dúbios raios do luar, parece
Uma viúva envolta em crepes, quando,
Pelo Ausente adorado, ergue uma prece.
E eu penso que é minh’alma disfarçada
Em noite que, no espaço, anda vagando,
Num manto de agonias rebuçadas.
(Santa Luzia, Junho de 1901).
A noite cai
A meu querido tio
Tito Magalhães da Silva Porto
A noite cai, nostálgica, sombria,
Triste como um adeus — por sobre a terra.
Que funda mágoa, que mistério encerra
Seu pranto feito da geada fria?
Noiva do sonho, a demandar um beijo
Erra, por entre as nuvens, sonolenta;
Segue-lhe os passos, nessa marcha lenta,
Das estrelas o pálido cortejo.
Aos dúbios raios do luar, parece
Uma viúva envolta em crepes, quando,
Pelo Ausente adorado, ergue uma prece.
E eu penso que é minh’alma disfarçada
Em noite que, no espaço, anda vagando,
Num manto de agonias rebuçadas.
(Santa Luzia, Junho de