Texto do portugues arcaico ao moderno
É certo que o período arcaico, antigo ou medieval (e prefiro a primeira designação por considerá-la mais definidora), apresenta um conjunto de características lingüísticas representadas na documentação escrita remanescente que fundamenta a oposição entre o Português arcaico e o moderno, para outros designado como clássico. A questão em que neste ponto me vou centrar é uma velha questão, mas ainda, a meu ver, não resolvida, que recobre a definição de quando essas características que tipificam o período arcaico deixam de ocorrer na documentação escrita.
Todos sabemos que, na História do mundo ocidental, são considerados tempos modernos aqueles que se iniciam na passagem do século XV para o XVI. No caso da Península Ibérica e, muito especialmente no caso português, sem dúvida, 1498 e 1500 são inícios de novos tempos, só então se cumpria o antigo projeto de inícios do século XV, com a vitória sobre a rota marítima para as Índias e com o vitorioso domínio da navegação no Atlântico Sul e conseqüente chegada ao futuro Brasil. Será então adequado dizer que o Português arcaico acaba ao acabar o século XV? Sabemos também que a história das línguas não acompanham a par e passo a história sociopolítica das sociedades que usam essas línguas. Seus ritmos são distintos. Se um evento histórico significativo pode ser tomado como um marco delimitador de um período histórico para a história de uma sociedade, a língua dessa sociedade continuará o seu ritmo constitutivo e pode disso sofrer o efeito com o passar do tempo.
Decorre desse desemparelhamento entre a história da sociedade e a história da língua dessa sociedade o fato de não encontrarmos consenso, nos estudos pertinentes, na delimitação dos finais do período arcaico e dos inícios do período moderno da língua portuguesa. Em trabalho anterior, publicado em 1994 na Revista D.E.L.T.A., reuni dados de trabalhos de doze especialistas, filólogos da antiga tradição e lingüistas nossos