Texto dissertativo 3° ano EM
A amizade tem sido eleita por pensadores e artistas de diversos tempos como uma das coisas mais importantes da vida. Há quem lhe atribua importância maior que o amor.
Em nosso mundo contemporâneo não faltam produções escritas ou audiovisuais que coloquem a amizade no mais alto patamar. Porém, tanto nas produções de tempos passados como nas de tempos atuais, a amizade é tratada como um ideal, no sentido de que é algo difícil de ser obtido.
Na Antiguidade Clássica, Cícero já apontava a existência daqueles que suprimem a amizade de suas vidas ao comentar que os que assim o faziam pareciam-no privar o mundo do sol. Se há um amplo conhecimento de sua importância, por que a amizade é vista e apresentada como algo difícil e raro?
Montaigne, em suas reflexões, oferece alguns elementos que nos permitem abordar melhor a questão. Ao apresentar a amizade como um tipo de relacionamento no qual se busca intimidade sem reservas, Motaigne põe o foco em um aspecto das relações pessoais que, se foi complexo em seu tempo, seguramente é problemático na sociedade ocidental contemporânea.
É uma característica de seus dias atuais o crescente individualismo, que alguns pensadores preferem qualificar como narcisista. Vive-se em um ambiente no qual, mais do que ser, é preciso parecer. A criação da atividade de consultor de imagem nos dá a dimensão da separação cada vez maior entre o que efetivamente somos e a imagem que buscamos transmitir.
A nossa aparência não busca refletir o que somos mas, em uma inversão do significado da palavra “imagem”, é ela quem nos define para os outros. Em tal contexto, como construir intimidade? E, em consequência, como cultivar amizades?
Se tem sido benéfico para o sistema econômico, o individualismo narcisista tem transformado, no plano das relações pessoais, campos aráveis em terrenos arenosos.
Milhares de anos atrás, a humanidade foi desfiada e deu uma resposta em um salto qualitativo ao aprender a cultivar a terra.