Texto 01 A F Brica Da Hist Ria
DO “ACONTECIMENTO” À ESCRITA DA HISTÓRIA
AS PRIMEIRAS ESCOLHAS GREGAS
François Hartog
RESUMO: O artigo trata da origem da história na epopéia, ou melhor, na ruptura com a epopéia, quando o mundo deixa de ser épico, quando se coloca o problema herodoteano de falar do passado não mais baseado na autoridade das Musas, mas na investigação. Na epopéia, o poeta falava em verso do passado que lhe era revelado pelas Musas; na história, o historiador discorre em prosa sobre o passado, do qual ele sabe por ter visto ou sido informado. Discorda de Hannah Arendt, que via o nascimento da história no relato da tomada de Tróia, feito por
Demódocos na Odisséia, pois, para ela, a presença de Ulisses, lá na tomada de Tróia, e aqui, no relato dessa tomada pelo aedo, seriam a prova de que o fato realmente aconteceu. F. Hartog, entende que os agentes envolvidos no relato da tomada de Tróia
(Ulisses, o aedo e o público) estão todos ainda inseridos no sistema de crença na onisciência e onivisão das Musas que revelam a verdade do que aconteceu aos aedos; no entanto, aponta a singularidade desse momento da épica grega em que o
Demódocos
“poeta-cantor” justapõe-se ao
Demódocos
“historiador”, apontando para a futura operação historiográfica que virá com Heródoto.
PALAVRAS-CHAVE: Historiografia – Grécia Antiga – Epopéia
Artigo publicado em Les Cahiers de la Ville Gillet, nº 9, agosto de 1999, p. 33-43.
Tradução de Fábio Vergara Cerqueira, professor de História Antiga do
Departamento de História e Antropologia da UFPEL e doutorando em Arqueologia
Clássica pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da USP.
François Hartog é professor de Historiografia antiga e moderna, diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS/Paris) e diretor do Centre
Louis Gernet. Autor de Le XIX siècle et l’Histoire: le cas Fustel de Coulanges e
Memoire d’Ulisses, Récits sur la frontière en Grèce ancienne, entre outros. Sua obra mais conhecida é O