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Portugal, três geografias em recombinação
Espacialidades, mapas cognitivos e identidades territoriais
O
território continental português reflecte, hoje, a combinação de três espacialidades macroregionais : a oposição Norte/Sul, característica do Portugal tradicional ; a oposição litoral/interior, característica do
Portugal moderno ; um « território-arquipélago » organizado em rede, característico do Portugal pós-moderno (figura 1).
Cada uma destas espacialidades macroregionais associa-se de forma privilegiada a recortes geográficos do país e a identidades de base territorial relativamente específicos. Mas a emergência de uma nova espacialidade macroregional não implica o desaparecimento das anteriores : mais do que processos radicais de substituição, verificam-se mecanismos de combinação.
De um ponto de vista analítico, a realidade actual tem, por isso, de ser entendida a partir de duas frentes autónomas mas interligadas. Por um lado, através da identificação dos aspectos substantivos próprios de cada uma das espacialidades macroregionais. Por outro lado, procurando explicitar o modo como essas espacialidades se articulam entre si, avaliando os processos de recombinação de espacialidades que explicam o presente e permitem perscrutar o futuro próximo1.
As espacialidades macroregionais : breve apresentação
A oposição Norte/Sul tem sido amplamente debatida, tanto nas suas causas como nas suas características e consequências para o país, em geral, e para cada uma das parcelas do território nacional, em particular.
O Portugal tradicional : a oposição Norte/Sul, um produto geo-histórico
No final de oitocentos, autores como Alberto Sampaio e Basílio Telles, curiosamente ambos do Norte, propuseram explicações de natureza étnica
1.
Retomam-se algumas das ideias exploradas num texto anterior : J. FERRÃO, « As Geografias do País », Janus 1999-2000 (Lisboa), Público & Universidade Autónoma de