Território do quilombolas
Este trabalho tem como objetivo a análise dos elementos de memória presentes nos evangelhos sinópticos1 e sua fundamental importância na formação da tradição e da memória cristã no século I, bem como a relação entre os elementos de memória e a liturgia. Esta pesquisa se dá através do estudo critico dos evangelhos sinópticos, os quais compõem uma narrativa memorial, levando em consideração seus significados culturais e seu contexto social.
O papel da memória é fundamental na formação do Paleocristianismo. O ensino cristão se dá através da evocação da memória de Jesus, que atualiza no presente de quem a evoca, a vida, a pregação e os ensinamentos de Cristo. Os discípulos de Jesus foram instruídos por seu mestre a pregar seus ensinamentos e a guardar, manter e repetir sua memória, como no episódio da Santa Ceia, presente nos três Evangelhos2
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Na referida passagem observamos um dever de memória, onde, então, a memória é o que eu atualizo no presente, sendo sempre re-interpretada por quem a evoca, e a liturgia da Eucaristia remete sempre o cristão ao momento original, à
Santa Ceia e à vida de Cristo. Os cristãos se voltam para o passado, para a figura de Jesus, e reproduzem na liturgia todo um ritual de re-atualização da memória.
A memória aqui não está problematizada, ela é somente aquilo que eu devo, o que eu preciso lembrar, resgatando e atualizando para a vida o contexto de cada cristão, a imagem e os ensinamentos de Jesus. A liturgia remete ao momento original, à vida de Jesus; o ritual reproduz esse evento inicial, só que em tempos diferentes. Atualizar sempre para o cristão a vida de Cristo, antes e depois de sua morte, é o que presidiu o pensamento dos apóstolos.
A memória flui, acima de tudo, através de dois canais: o ritual e a narrativa.
Ocorre muitas vezes uma interação entre ritual e narrativa, estabelecendo-se a liturgia. Na liturgia da palavra (leitura dos evangelhos), por exemplo, os