Teoria sobre a vida e obra de Hobbes
Em 1973, o crítico literário Roland Barthes publica O prazer do texto. Coloca Thomas Hobbes em epígrafe: "A única paixão da minha vida foi o medo". Isso me impressionou. Eu tinha encontrado Deleuze - que deveria ser meu orientador, mas não pôde ser - e, quando lhe falei de Hobbes, insistiu na importância do medo. Também Barthes dizia: o único filósofo que levou a sério a questão do medo foi Hobbes.
Na sua autobiografia, Hobbes conta que nasceu de parto prematuro. Sua mãe vivia numa aldeia da Cornualha e, quando a Invencível Armada de Felipe II se aproximou das costas inglesas, em 1587, houve uma debandada. Na confusão, a sra. Hobbes teve seu filho Thomas. "Minha mãe pariu gêmeos, eu e o medo". Realmente, Hobbes é o filósofo do medo. Mas, tempos depois, me caiu nas mãos um poema de John Donne, contemporâneo de Hobbes. "Pregnant again with the old twins, Hope and Fear...", começava ele.
"De esperança outra vez prenhe e de seu velho gêmeo, o medo", entendi. Velho gêmeo? A esperança como gêmeo do medo? Então, Barthes citara errado. Toda uma tradição que fundou o Estado hobbesiano no medo fazia uma leitura, se não errada, pelo menos incompleta. Sim: a esperança aparece com frequência perto do medo, em Hobbes. Na verdade, assim como na sua Física, os dois polos do ímã estão presentes - o que atrai e o que repele - também, ao tratar do ser humano, ele pensa em termos de apetite e aversão - o que aproxima e o que distancia. Esperança e medo traduzem, no plano das paixões, esses pares de opostos. Para sair da guerra de todos contra todos, militam o medo da morte violenta e a esperança da paz, diz ele.
ArQuiVo ciênciA & ViDA
Leviatã, obra de Thomas Hobbes, que representa um estado forte e poderoso capaz de dar segurança à sociedade em troca da renúncia a várias liberdades
Isso muda a compreensão de Hobbes. Tomemos Althusser, pensador marxista influente nas décadas de 1960 e 70, escreveu um belo livro sobre Montesquieu, que diz: o medo para Hobbes funda