AUTO DE SÃO LOURENÇO DE ANCHIETA e CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA A peça “Auto de São Lourenço”, cujo autor é o jesuíta José de Anchieta apresenta em sua estrutura sermões, histórias de lutas contra a França, cantos e danças indígenas, poesia. Os idiomas presentes no livro são: português, espanhol, tupi e guarani e essa riqueza literária explica-se pelo conhecimento lingüístico singular do autor. José de Anchieta veio para o Brasil em 1553 com a missão de catequizar os silvícolas sul-americanos e o livro aqui estudado ilustra isso, pois utiliza estratégias discursivas para persuadir indígenas acerca da religião católica, na sequência, discorrer-se-á mais sobre esse ponto. Ademais, outra função do padre, bem como a de seus pares, era proteger nativos de abusos dos colonizadores portugueses. Anchieta participou na luta contra os franceses estabelecidos na França Antartica e este foi o contexto da obra “Auto de São Lourenço”. A peça em questão, objetiva catequizar os indígenas na fé católica, destarte, tratou-se de temas que não existiam na cultura Tupi, tais como: Deus, enquanto ser exclusivamente ligado ao bem; o Diabo, ser que representa o mal. Na cultura indígena, Tupã, ser supremo, representa o bem e o mal simultaneamente e pode ser entendido como um círculo sagrado. Anchieta redefine Tupã como o bem e cria outro ser para representar o mal. Há também figuras desconhecidas pelos nativos, dentre elas cito aqui o Bispo, que Anchieta traduziu como o pajé maior. Anchieta, desta forma, interfere na cultura local ao criar analogias entre a cultura indígena e a cultura cristã européia para atingir o objetivo de catequese. É mister destacar que surge uma terceira cultura a partir da fusão de mitos dos nativos e fé católica. Esta é uma das estratégias discursivas utilizadas brilhantemente pelo padre. Ocorre, ao longo da peça, uma demonização da cultura indígena, por exemplo: a “Lei do Diabo” é a própria cultura e costumes indígenas, tais como, feitiçaria, dança,