Teologia da esperança
Dilúvio(s)
As narrativas sacerdotal e pós-sacerdotal da Bíblia Hebraica em contexto histórico-social
Osvaldo Luiz Ribeiro
| |RIBEIRO, Osvaldo Luiz. Dilúvio(s) - as narrativas sacerdotal e pós-sacerdotal da Bíblia Hebraica em contexto |
| |histórico-social. Revista de Cultura Teológica, São Paulo, n. 47, p. 99-136, 2004. |
“Criação” e “dilúvio” são duas “histórias” que todos conhecemos. Ouvimo-las desde crianças, e alguns de nós foram catequizados também por meio delas. Não saberia dizer exatamente qual a razão pela qual decidi debruçar-me sobre essas duas “histórias” da Bíblia Hebraica – mas o fato é que me envolvi com elas. Publiquei um primeiro artigo sobre Gn 1,1-2,4a[1], e descobri que precisaria de mais espaço e tempo – traduzindo: precisaria escrever mais, muito mais. O segundo artigo sobre Gn 1,1-2,4a ficou pronto e sairá publicado pela Revista de Teologia Londrinense[2], provavelmente ainda nesse segundo semestre de 2003. O terceiro artigo da agora já uma série de artigos sobre Gn 1,1-2,4a está no forno. Todos os três têm em comum o fato de que se constituem numa tentativa de situar histórico-socialmente o texto[3] de Gn 1,1-2,4a – a cosmogonia judaica do século VI. Enquanto escrevia os artigos – porque muitas das intuições a que dou atenção “brotam” precisamente enquanto escrevo – admiti que, metodologicamente, “criação” e “dilúvio” são “histórias”do mesmo “sistema”. Em termos “bíblicos” – e “cosmogônicos”, não há “criação” sem “dilúvio”, nem “dilúvio” sem “criação”. A afirmação parece válida pelo menos para o contexto do Crescente Fértil Antigo, onde “criação” e “dilúvio” consistem em fôrmas ou grades constituídas por dois temas político-religiosos que, adaptados a cada contexto histórico-social onde são instrumentalizadas, assumem estrutura e aplicação próprias. Enquanto grades sistêmicas, o sentido dos sistemas criação → dilúvio constituem função