tempos modernos
Definição clássica, ou seja, romântica, goethiana, de alegoria: relação convencional entre uma imagem ilustrativa e um sentido abstrato. Nada resume melhor a concepção de alegoria com a qual se deve romper (p. 15).
A alegorização da phisis só se pode levar a cabo em todo vigor a partir do cadáver. Os personagens do drama barroco [Trauerspiel, literalmente, ‘jogo em luto’, ou ‘lutilúdio’, como diria Haroldo de Campos] morrem porque só assim, como cadáveres, podem adentrar-se na morada da alegoria (citação n. 11, p. 17).
(...) o cadáver se afirma como objeto alegórico por excelência porque o corpo que começa a se decompor remete inevitavelmente a essa fascinação com as possibilidades significativas da ruína que caracterizam a alegoria. O luto é a mãe da alegoria. Daí o vínculo, não simplesmente acidental, e sim constitutivo, entre o alegórico e as ruínas e destroços: a alegoria vive sempre em tempo póstumo (p. 17).
Ao revisitar um dos casos freudianos mais ilustres, o do homem dos lobos, Nicolas Abraham e Maria Torok desenvolvem a noção de criptonímia para designar o sistema de sinônimos parciais que é incorporado ao ego como signo da impossibilidade de nomear a palavra traumática, já que para eles o objeto traumático é sempre, necessariamente, uma palavra. A cripta, para Abraham e Torok, seria a figura da paralisia que mantém o luto suspenso. Na clássica distinção freudiana entre o luto e a melancolia – distinção, ela mesma, elaborada, cabe lembrar, sob o impacto do caso do homem dos lobos – o luto designa o processo de superação da perda no qual a separação entre o eu e o objeto perdido ainda pode ser levada a cabo, enquanto que na melancolia a identificação com o objeto perdido chega a um extremo no qual o próprio eu é envolvido e convertido em parte da perda. A distinção que propõem Abraham e Torok entre introjeção e