Quando nos propomos a avaliar quantitativamente as transformações do setor de telecomunicações ocorridas no Brasil nas últimas duas décadas, não podemos fazê-lo sem antes lançar um olhar para o resto do mundo e observar o que estava acontecendo com o setor a nível mundial. Essa discussão terá um suporte valioso nos trabalhos de Fransman (2000 e 2002), que soube muito bem identificar essa mudança de paradigma no setor, bem como analisou o boom de investimentos fruto desse novo paradigma. Em Fransman (2000) é apresentada a evolução do setor a partir de meados dos anos 80, com o começo da liberalização no Japão, Reino Unido e Estados Unidos, e as causas dessa mudança. Na década de 90, com a adesão da Comunidade Européia a esse processo, havia um consenso disseminado de que a liberalização das telecomunicações era inevitável. Fransman coloca como um fator chave para a transformação ocorrida no setor ao redor do mundo a mudança do regime tecnológico da indústria. Em linhas gerais podemos dizer que, dentro da taxonomia proposta por Pavitt (1984), o setor que antes poderia ser enquadrado dentro da categoria onde os setores de produção, uso e principal atividade das firmas eram os mesmos, se deslocou nesse período para a categoria onde a principal atividade das firmas e uso da inovação estão nos mesmos setores, mas a produção da inovação está em outro. Faz-se necessário, no entanto, tecer alguns comentários sobre a adequação da taxonomia Pavitt à dinâmica descrita por Fransman. Segundo este último, o setor poderia ser dividido em três camadas: a camada de equipamentos, a camada de rede e a camada de serviços. As camadas de rede e serviços estavam dentro da mesma empresa, a operadora de telefonia, enquanto que os fornecedores de equipamentos estavam organizados em empresas diferentes. Apesar de formalmente separados, operadores e fornecedores estavam umbilicalmente ligados, uma vez que, dada a característica de monopólio natural das operadoras, os