Tecnociências: meios ou fins?
As técnicas e tecnologias fogem de nosso controle e passam a determinar muito mais do que a forma como fazemos as coisas, chegando ao ponto de influenciar aquilo que de fato somos
Foi-se o tempo em que podíamos imaginar uma Ciência hipoteticamente pura, neutra, imparcial e até mesmo superior, em que cientistas e pesquisadores perseguiriam unicamente a "verdade", o conhecimento "puro", alheio aos interesses e influências de toda sorte. Isso se considerarmos que um dia essa Ciência "imaculada" e "virgem" possa ter, de fato, existido. Pois, como já sabemos, por força das duras lições da História, a Ciência e a tecnologia advêm e florescem em contextos sociais específicos imbricados, geralmente sob condições favoráveis em termos de recursos e articulações, e elas estão sempre vinculadas indissoluvelmente aos atores e agentes humanos e não humanos que as fomentaram: pessoas, governos, instituições. Há também, paralelamente a isso, um fenômeno importante de descontrole tecnocientífico, que se reflete com clareza na velocidade extremada com que os novos objetos técnicos, técnicas e tecnologias ingressam no contexto social. A industrialização de bens e produtos, em larga escala, processo altamente tecnologizado e extremamente degradante do ponto de vista eco-ambiental, que é oriunda dos desenvolvimentos tecnocientíficos relativamente recentes, trouxeram-nos também - além das benesses óbvias que já conhecemos - uma série de problemas e crises, alguns deles difíceis e até mesmo insolúveis a curto prazo. Poluição, devastação ambiental, alimentos e seres transgênicos, clonados, lixo tóxico, radioativo, armas, guerras, desigualdades sociais extremadas... são essas, de fato, as consequências negativas de nossas tecnologias. E muitos outros problemas poderiam ser listados, já que, contrariamente ao entendimento comum, tecnologias não são apenas soluções, não apenas resolvem, mas também criam novos problemas, muitas vezes de origem