Teatro

Agora estou ocupada com meus carrapatos! Não me venham atazanar, pois agora me ocupo com meus carrapatos. É hora do banho, amiguinhos.( Pausa) Estão tão gordinhos e suculentos. Ta, eu cometi esse crime horrível. Matei um irmãozinho de vocês. Ele mordia minhas entranhas e me incomodava muito. Apenas abri seu corpinho. Mas não achei o que procurava. Não achei o baú onde guardo os motivos. (Pausa.) Porque ele me mordeu? Porque ele? Toma de comer coração. Toma coração devastado.( Ela mesma come.) Oh, os carrapatos morreram afogados! (Ri.) Não sabia que eles não sabiam nadar! Ah, é mesmo,quem nada são os cães. Mas logo os cães?Agora estou só mais uma vez. E sou nada. É uma qualidade muito rara: ser nada. É privilégio de poucos ser nada! Os carrapatinhos afundaram. Como eu. Me afundei uma vez e para sempre! Mas daqui a pouco eles bóiam.( Pausa) Aqueles outros pensam que eu só vim aqui tomar banho. Estão enganados. Pena que a água não limpa a -alma. Eles banham os mortos, que em pouco tempo estão podres. E fedem! Mas a alma de papai está limpa. O que papai fazia aqui? O que eu faço aqui? O que eles todos faziam aqui? Papai era tão bonzinho. (Mas com aquele risinho falso) Eu não gostava dele. Ele não fazia o que eu queria! E quando não fazem o que eu quero... eu... eu...( Gestos violentos.) Então eu botei aquele caldinho verde que faz matar os ratinhos na sopinha de papai. Ele tomou toda a sopinha e ficou tão verde quanto o caldinho verde que faz matar os ratinhos do fogão. Mas os ratinhos só iam lá para se alimentar...Ah, por que a gente é assim? Eu queria ser como a condessa . A condessa dançava tão bem.(Dança imitando os passos de uma bailarina.) Que ódio! Pára bruscamente. Que ódio!! Não pude ser como a condessa . Eles não me deixaram! Não me deixaram, disseram que a condessa era muito... muito fogosa! Não existem mais crianças! Estou farta desses seres que serão iguais a seus pais. Os mesmos defeitinhos, corruptos e boçais. Mocinhas mimadas que desprezam os mais