Teatro e ditadura
Segundo o autor, entre 1964 a 1984 o teatro funcionou em condições anormais que fizeram surgir nos palcos tendências, experiências, textos e encenações de características muito diferentes de tudo que ali fora visto anteriormente.Ao mesmo tempo, rotulado pelo regime militar como um perigoso inimigo público,e, conseqüentemente, perseguido e reprimido. O teatro constituiu-se numa importante frente de resistência ao arbítrio e desempenhou destacado papel na sociedade do seu tempo. O episodio é bastante complexo e fascinante para merecer uma análise que abarque os seus aspectos estéticos, sociológicos e políticos.
II- Os Antecedentes
De acordo com o texto, até o fim dos anos 30 o nosso teatro estava, há muito, mergulhado num profundo imobilismo. Sua vida girava em torno de alguns astros e estrelas, dotados de fortes capacidades histriônicas e de grande facilidade de comunicação com o público, mas desinteressados de experimentar quaisquer caminhos que já não tivessem sido amplamente testados e explorados. Um repertório desambicioso, constituído na sua quase totalidade de comédias antiquadas e de revistas. Espetáculos sem nenhum vestígio de concepção diretorial. A figura do diretor, no sentido moderno, quase não existia, sendo substituída pela função do ensaiador, que cuidava apenas dos aspectos “mecânicos” do espetáculo e realizado sem nenhuma preocupação estética ou estilística. Tendo processos de ensaio em que o lançamento sucedia as vezes, a intervalos de apenas uma semana. isentando o ator de decorar detalhadamente o texto, os elencos eram escolhidos e orientados com o cuidado de não ofuscar o brilho histriônico pessoal do protagonista-empresário. Longe de assumir como uma força viva e atuante dentro da sociedade, o teatro contentava-se com o papel de mero divertimento escapista, submisso às acomodadas exigências do público, que preferia a repetição de uma redundante rotina a qualquer hipótese de um impulso inovador.