teatro do absurdo
Jean Paul Sartre
1944
Texto distribuído pelo portal cultural www.oficinadeteatro.com
Para uso comercial, entrar em contato com o detentor dos direitos autorais.
Original por
CEFET-SP
Produção Artística
2001
Personagens:
Inês
Estelle
Garcin
O Criado
CENA I
www.oficinadeteatro.com
Garcin, O Criado do andar.
Um salão, estilo Segundo Império. Um bronze sobre a lareira.
G – (Que entra e olha em torno) Pois é.
O.C. – Pois é.
G – Então é assim...
O.C. – É assim.
G – Acho... Acho que com o tempo a gente se acostuma com os móveis.
O.C. – Isso depende das pessoas.
G – Será que todos os quartos são iguais?
O.C. – Que idéia! Recebemos chineses, hindus. Que quer que eles façam com uma poltrona Segundo Império?
G – E eu? Que quer que eu faça? Sabe quem era eu? Ora! Isso não tem importância. O que é fato é que sempre vivi no meio de móveis que não gostava e de situações falsas! Achava isso adorável. Que tal: uma situação falsa numa sala-de-jantar Luís-Felipe!
O.C. – Vai ver: também não ficará mal num salão Segundo Império.
G – Ah! Bom, bom, bom: (Olha em torno) Em todo o caso, por essa eu não esperava... Não me diga que não sabe o que se diz por lá.
O.C. – Sobre o quê?
G – Quer dizer... (Num gesto vago e largo) sobre isso tudo.
O.C. – Acreditar nessas tolices! Gente que nunca pôs os pés aqui. Se ao menos já tivessem estado por aqui.
G – É mesmo.
Riem os dois.
www.oficinadeteatro.com
2
G – (Ficando sério de repente) Onde estão as estacas?
O.C. – O quê?
G – As estacas, as grelhas, os funis de couro.
O.C. – Está brincando?
G – (Olhando-o) Como? Ah! Bem. Não. Não estava brincando. (Um silêncio. Anda um pouco) Nem espelhos, nem janelas, nem naturalmente, nada que seja frágil. (Com súbita violência) Por que me tiraram a escova de dentes?
O.C. – Aí está a dignidade humana que volta. É formidável.
G – (Batendo com raiva no braço da poltrona) Nada de familiaridades comigo. Reconheço a minha posição,