Tchekhov, Freud e Kierkegaard: a angústia em O Monge Negro
Nelson de Oliveira Capucho
Universidade Estadual de Londrina
“E quem lhe disse que os homens de gênio, respeitados pelo mundo inteiro, não tiveram visões? Diz a ciência de hoje que o gênio está muito próximo da loucura. Creia-me, as pessoas saudáveis e normais são vulgares: o rebanho”. Estas palavras de um misterioso monge são dirigidas a Kovrin, o intelectual angustiado, em “O Monge Negro”, uma das novelas mais expressivas do escritor russo Anton Pavlovitch Tchekhov (1860-1904).1 Nesta obra de altíssima qualidade literária, a narrativa é toda entremeada de vieses psicológicos e ao final nos sobram algumas questões inquietantes. Por exemplo: até que ponto nossa angústia pode ser revertida em criatividade? Ou qual o limite entre imaginação e delírio?
O enredo da história, resumidamente, é o seguinte: o professor e escritor Andrei Vasssilievitch Kovrin sofre um “esgotamento nervoso” 2 e é orientado por um médico amigo a passar a primavera e o verão no campo. Como havia recebido uma carta de Tânia Pessotski convidando-o a visitar a propriedade da família, em Borissovka, decide ir até este local onde passou parte de sua vida quando era garoto.
Tânia e o pai administram a fazenda, famosa pela produção de frutas e de flores. O Sr. Pessotski fora tutor e uma espécie de segundo pai para Kovrin (que perdera os pais na primeira infância). Cinco anos atrás, quando fez a última visita à propriedade, Tânia era “uma criança magra, de pernas compridas, desajeitada.” Agora, ao reencontrá-la, o professor percebe que ela se tornou uma mulher atraente. Daí para um clima de romance é só um passo. O problema é que Kovrin começa a ter perturbadoras visões de certo Monge Negro, personagem que o instiga a questionar seus valores e objetivos. Ele e Tânia acabam se casando e vão morar na cidade. Sua carreira no magistério poderia ter grande impulso se, ao obter uma cátedra independente,