Talvez ajude
Já conhecia os cantos à casa e previsivelmente era na escuridão que eu temia mais a tua furtiva aproximação. Vivias em locais escondidos, à mercê da minha coragem que nunca chegou a aparecer.
O silêncio do que nunca dissemos encheu-me de uma ansiedade salgada. Um sal que me secou como um peixe ao sol, lentamente preenchendo tudo o resto com a falsidade que eu antes não conhecia. Noite após noite desaparecias para lugares que para mim não existiam onde predadora colhias o teu alimento. Prometes-te que me contavas quando precipitada sobre o meu pescoço escondeste o desejo que fervia a tua vontade. Os teus olhos desumanos pregaram-se ao reflexo da janela, a mesma que nos separava das afugentadas árvores sacudidas pela intempérida. Sussurraste que tinhas de partir, nunca mais nos iríamos ver… Era para o meu bem dizias tu entre o inesquecível bater da porta! Lutei por me mentir, dia após dia, fingindo ser o amigo que te conhecera. Um amigo das más horas, dos desejos e das loucuras. Um amigo que entrava no teu quarto quando tudo estava escuro e arrastava o teu calor para o aconchego dos meus braços. Mas até esse partiu, levado por ti. Em seu lugar ficou uma carcaça vagabunda que agora preenche a sala de tua casa. Um moribundo de olhar pregado às tuas fotos, aquelas onde ainda vivias a nossa vida, dona e senhora do teu sorriso e da tua mentira. Fui fraco onde tu foste forte, mas como tudo o resto esse era mais um resultado da nossa invulgar convivência! Agora que penso, sempre fui conivente, talvez porque me convinha ser teu