Tal Pai
Um pai inteligente vai gerar um filho inteligente? Afinal: talento, comportamento e vocação estão impressos nos genes?
Leandro Narloch O escritor Alexandre Dumas, de Os Três Mosqueteiros, é pai do escritor Alexandre Dumas, de A Dama das Camélias. Isso prova que o talento está nos genes? O cantor Xororó é pai de uma dupla que faz mais sucesso do que ele – Sandy e Júnior. Prova cabal de que não só a voz, mas também a empatia com o público estão gravadas no DNA? Então, como explicar que Leopold, um esforçado violinista austríaco, tenha gerado Mozart? Que mistério separou Pelé, o maior jogador da história, de seu filho Edinho, um goleiro no máximo dedicado. Afinal, talento, inteligência e mesmo comportamento passam de pai para filho? Como? Pelos genes, como a cor dos olhos e a calvície, ou pela convivência familiar? O que teria tido maior influência na formação do escritor Luís Fernando Verissimo: o DNA ou a biblioteca do pai Érico?
A polêmica é velha, mas está atualizadíssima por novos estudos da neurociência e da genética comportamental, que tornaram quase inegável a tese de que o que há dentro da nossa cabeça sofre influência dos genes. No entanto, tem muita gente que ainda não está convencida.
Não é à toa que esse papo de inteligência ser hereditária gera polêmica. A crença na hereditariedade de traços intelectuais deu origem a muitas tragédias no passado. Tudo começou no século 19, logo após Charles Darwin publicar A Origem das Espécies. Seu primo Francis Galton aplicou a teoria da seleção natural para humanos, criando a infame teoria eugênica. Imaginou algo que hoje dá medo: a possibilidade de aprimorar a raça humana com cruzamentos genéticos planejados. Nessa época, "cientistas" saíam pela África com colete de caçador e cachimbo, medindo crânios, para disparar conclusões deste tipo: os europeus são mais inteligentes que os africanos porque têm o cérebro dois centímetros maior. Era o ápice da crença na inteligência como parte da natureza,