Tajetória de mulheres negras lésbicas

6022 palavras 25 páginas
TRAJETÓRIAS DE MULHERES NEGRAS LÉSBICAS: A FALA ROMPEU O
SEU CONTRATO E O SILÊNCIO SE DESFEZ1
Sandra Regina de Souza Marcelino

Do silêncio à fala: mulheres negras lésbicas

DESDE a imagem de Harpócrates, a divindade egípcia que posiciona o dedo sobre os lábios como se estivesse pedindo silêncio, a mulher, em distintas sociedades e grupos, silenciou sua voz perante a presença do masculino. O silenciar-se vem de todos os lados e quem ousaria quebrar, com um ruído sequer, a fala grossa imposta pelo dono do “falo”? No decorrer da História, as mulheres não eram levadas em conta e nem por isso deixaram de existir.
Considerar as falas da mulher na sociedade brasileira é se ocupar em tecer uma história marcada por narrativas muitas vezes silenciosas, anônimas e submissas. Porém, outras vezes, essas vozes são gritos de guerreiras; são falas políticas; articulam-se de maneira independente. Cada qual utiliza um estilo próprio e apresenta agendas específicas; cada uma se enuncia de um ponto de vista diverso. Caberia aqui, se assim fosse possível, aproximar-me das inúmeras falas que constroem as múltiplas identidades da mulher na sociedade brasileira.
Historicamente, a presença das mulheres foi assumindo diferentes espaços na sociedade e reconfigurou a ordem social a partir das suas exigências por direito de voto, de participação política, de educação formal, de trabalho, de controle do corpo e da maternidade, e de autonomia individual, entre outras.
Essas questões trouxeram à tona discussões sobre a subalternidade feminina, que durante séculos permearam a sociedade brasileira, e a sua decorrente invisibilização. Com essas agendas, o movimento feminista contribuiu para transformar as experiências de vida, principalmente, de mulheres brancas e heterossexuais brasileiras.

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Livro: Outras Mulheres: mulheres negras brasileiras ao final da primeira década do século XXI

Quanto à mulher negra, suas pautas políticas mais específicas tomaram
muito

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