Sócrates
Sócrates era analfabeto?
Esta questão surgiu em sala da aula. Alguns alunos encontraram na wikipédia (todo cuidado é pouco) a informação de que Sócrates não teria deixado nada escrito pelo fato de ser analfabeto. Já conversei com pessoas estudiosas que acreditam piamente nisso. A questão não pode ser resolvida apenas a partir de opiniões. Os que defendem a tese de que Sócrates era analfabeto o fazem partindo de um raciocínio que parece lógico: quem não escreve é analfabeto; Sócrates não deixou nada escrito; logo, Sócrates é analfabeto. Sem querer tecer comentários a respeito do pretenso silogismo, precisamos, contudo, ficar atentos a alguns detalhes: o primeiro deles é que há uma diferença entre não escrever e não deixar nada escrito. Deixar algo escrito significa, em linhas gerais, deixar para a posteridade algo de interessante. Alguns pensadores podem ter escrito coisas até interessantes, sem que seus escritos tenham chegado até nós. Não vamos perder tempo fazendo o elenco das inúmeras causas, quer de ordem antrópica, quer de ordem natural, para a perda de tais documentos.
Mas o fato é que Sócrates não deixou nada escrito, ou, se deixou, não chegou até nós. A questão, portanto, permanece. Como dissemos no primeiro parágrafo, o fato de não ter deixado nada escrito não significa que fosse analfabeto. Mas o bom senso nos obriga a admitir que também não significa que soubesse escrever. Nesse sentido, a elucidação da questão parece só ser possível a partir de alguma prova documental, ou, pelo menos, algum testemunho de contemporâneos de Sócrates a respeito de sua condição com relação à leitura e à escrita.
Ocorre que possuímos uma prova documental em forma de testemunho a respeito da questão. Esta prova se encontra no Fédon, obra em que Platão apresenta a versão de Fédon para o último dia de vida do mestre Sócrates.