Swain
Tania Navarro Swain
Resumo: Os discursos sobre o real tendem a mascarar a multiplicidade que os habita sob o perfil do unívoco, do mesmo, cristalizando identidades em torno de um eixo, o sexo biológico, binário, “natural”. Definidor de corpos e papéis sociais, o sexo se desdobra em sexualidade normatizada, a heterossexualidade, cujo caráter reprodutivo confere-lhe o selo da normalidade. Interessa-nos aqui questionar as evidências e investigar os mecanismos de produção das relações sociais, propondo como categoria de análise o heterogênero, que se enunciando revela a coerção da sexualidade em uma só direção. Todos seríamos, finalmente, queers? Palavras-chave: Heterogênero, Queers , Sexualidade.
No quadro epistemológico da atualidade, questionar, ampliar os horizontes de um mundo cercado por “certezas” revela-se mais importante que buscar respostas; inverter as evidências, como propunha Foucault (1971, p. 53), sacudir as verdades que nos definem e nos limitam, revela-se um caminho para o desvelamento de uma realidade múltipla. Os problemas que aqui nos interessam referem-se à vida que nos interpela com seus contornos plurais, construídos a cada instante; nesta ótica, os paradigmas, os estereótipos, chocam-se constantemente com o dinamismo e as nuances de um quotidiano feito em matizes diversos. As questões levantadas por esta realidade que nos interpela exigem um olhar voltado para o novo, o criativo, o contraditório, o paradoxal, ali mesmo
onde se pensava haver encontrado um caminho. Neste sentido, a categoria identidade concentra parte do debate acadêmico feminista de forma transdisciplinar, ligado aos problemas de ordem política, étnica e sexual. Onde estão as “certezas” de antigamente, que definiam o verdadeiro e o falso, o real e o ilusório, que designavam as raças e os sexos, “sem sombra de dúvida”? Onde se encontra a evidência da identidade sexual, do sexo biológico demarcador do feminino e do masculino