Sula e Mário - Guerra Civil
Vasco Gil Mantas
(Universidade de Coimbra)
Sumário. Partindo de uma análise da situação depois da vitória definitiva sobre Cartago e das atitudes políticas dos optimates e populares, o presente capítulo ocupa-se das tentativas reformistas dos
Gracos, da intervenção de Mário e das reformas que este grande militar e menor político introduziu no exército romano, passando de seguida à sua rivalidade com Sula. A Guerra Social merece também atenção, pelas causas e pelas consequências, uma das quais é a unificação da Itália. Os conflitos entre
Mário e Sula, com a violação de Roma como episódio dramático central e com repercussões por quase todo o território da República, mostram como a degradação do Estado atingira um ponto de impossível retorno à boa ordem do passado, real ou mítica. Foi a tarefa que Sula se impôs, através de proscrições e da ditadura, com o resultado que seria de esperar, entre cujas sequelas se conta a Guerra Sertoriana, passo importante na romanização da Hispânia.
Os anos da história romana que se escoam entre a destruição de Cartago e de
Corinto e a morte de Sertório caraterizam-se pelo deflagrar de numerosos conflitos, em parte resultantes das tensões introduzidas ou agravadas pela expansão imperial da
República Romana. No centro da maior parte dos conflitos civis que se desenvolvem nos séculos II e I a.C. encontra-se o problema do acesso às terras do ager publicus e os efeitos perversos da concentração do poder económico num grupo relativamente reduzido, gradualmente afastado do respeito pelos valores tradicionais, mesmo quando os utilizava como manifesto político. Durante décadas de acelerada expansão fora de
Itália, quando Roma se transforma em superpotência mediterrânica, optimates e populares defrontam-se pela palavra e pelas armas, chefiados ou inspirados por idealistas, demagogos, aventureiros ou simples cidadãos convencidos da possibilidade da reforma do Estado.
Dotada de instituições capazes de governar uma