Suellem
A globalização do mundo é um dado e um fato. A cosmopolitização é um ato e uma tarefa2. Se o mundo deve ser mais do que um sistema mundial, unificado por um substrato econômico e tecnológico que atinja o globo, para se tornar um universo, simbolicamente unificado por uma visão do mundo que coexista com outras visões do mundo articuladas entre si através de um diálogo intercultural e de um projeto comum para a humanidade em geral, nós temos que sair do globalismo rumo ao cosmopolitismo. O cosmopolitismo pressupõe uma cosmologia, uma visão englobadora do lugar do gênero humano no universo, e também uma filosofia da história que delineie uma visão normativa de seu destino e de sua unidade na diversidade. Em termos mais especulativos, podemos dizer que o cosmopolitismo representa a verdade da globalização. A cosmopolitização é a globalização an und für sich [em e para si], para falar como Hegel. É a resolução dialética da história mundial na qual a globalização se torna consciente de sua própria alienação em e enquanto sistema mundial autoperpetuador ("globalização an sich" [em si]) e luta para superar sua crise numa nova síntese planetária que preserve suas realizações ao dirigi-las para uma nova direção mais espiritual e mais humana ("globalização für uns" [para nós]). Como em todas as teorias dialéticas, são o Weltgeist [espírito do mundo] e a Weltanschauung [visão de mundo] normativa incorporada pelo espírito que fundamentalmente "direcionam" o curso da história, conduzindo-o e dirigindo-o adiante em direção à sua verdade final.
Para a teoria crítica da globalização que analisa a atual conjuntura geopolítica in weltbürgerlicher Absicht [numa intenção cosmopolita], ou seja, a partir da perspectiva normativa de uma solidariedade cosmopolita de alcance mundial, a questão central é como uma ordem mundial justa pode ser estabelecida e sustentada. Com Paul Ricoeur, mas apurando ligeiramente sua elegante formulação da eudaemonia, nós podemos descrever a