Subprime
CAPÍTULO II
RAÍZES DA CRISE FINANCEIRA DOS
DERIVATIVOS SUBPRIME
1. O Retorno das Crises Financeiras
A turbulência que abalou o mercado hipotecário norte-americano em razão das insolvências no segmento subprime insere-se, conforme salientado no capítulo 1, no rol de tempestades financeiras que têm marcado a economia globalizada.14 Tendo se tornado fenômenos mundiais recorrentes a partir de 1825, as crises financeiras culminaram com o crash de Wall Street em outubro de 1929, e desembocaram no colapso do sistema financeiro norte-americano, no inverno de 1932-1933. Com a supressão do padrão-ouro e o concomitante saneamento dos bancos promovidos pelo Emergency Banking Act de 9 de março de 1933, a compartimentação do sistema financeiro, o seguro de depósitos bancários e a Regulação
Q, instituídos pelo Glass-Steagall Act de 1933, o manejo keynesiano da política econômica, e, finalmente, a persistência de elevadas taxas de lucro no segmento não-financeiro, a economia norte-americana evoluiu num cenário de normalidade até o credit crunch de 1966. Embora desde então os EUA tenham assistido a várias crises financeiras, essas se tornaram mais freqüentes e mais intensas somente a partir da década de 1990, como resultado do processo de liberalização dos mercados e de globalização financeira. Nada se compararia, contudo, à crise internacional desencadeada pelos problemas no segmento de hipotecas subprime, corretamente avaliada por
Allan Greenspan (presidente do Federal Reserve de 1987 a 2006), seis meses antes do pânico causado pela bancarrota do Lehman Brothers, como “a mais grave [crise financeira] desde o fim da Segunda Guerra Mundial”.
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Embora concordasse com Greenspan, Stanley Fischer (2008, p.1) ainda sustentava, na Conferência patrocinada pelo Federal Reserve Bank of Kansas City, nos dias 21 a 23 de agosto de 2008, que os efeitos da crise financeira, em termos da porcentagem do PNB, eram reduzidos, e que os impactos da