stuart mill
O utilitarismo de Mill não deve ser confundido com a doutrina segundo a qual a justificação moral de uma ação se faz apenas de acordo com os resultados e segundo o critério de eficácia.
Deve entender-se o utilitarismo como uma teoria dos fins da ação humana. “A única coisa desejável é a felicidade, ou seja, o prazer e a ausência de dor”. Mas, como Platão e Epicuro, introduz a noção de qualidade e de hierarquia dos prazeres.
Os prazeres desejáveis “não são os de um porco”, mas os prazeres ligados às faculdades superiores do espírito: “É preferível ser Sócrates insatisfeito do que um imbecil satisfeito”.
O fundamento da moralidade é, portanto, a busca da felicidade, que constitui precisamente o princípio de utilidade. Mas como articular a busca da felicidade pessoal com o imperativo da utilidade geral? Mill afirma a sua continuidade com o utilitarismo de Bhentam, fundador desta teoria: “A máxima felicidade para um número máximo de pessoas”. Mas, rejeitando colocar-se apenas no ponto de vista quantitativo que pode não levar em conta o respeito pelo indivíduo enquanto tal, Mill diz claramente rejeitar uma conceção egoísta de utilidade.
Com este fim, distingue entre o “útil” e o “expediente”, designando este aquilo que serve o interesse egoísta e pessoal, e a utilidade é o que permite contribuir para a felicidade de todos.
Assim, “a moral utilitarista reconhece ao ser humano o poder de fazer, para o bem dos outros, o maior sacrifício do seu próprio bem.”
Egoísmo e altruísmo reconciliam-se, então, na forma mais elevada de autorrealização. Além disso, Mill aproxima-se de Kant. É verdade que, com a sua epistemologia da indução, rejeita qualquer conhecimento a priori, mas privilegia a ideia de dever, a noção de intenção e a de humanidade.
A moral torna-se uma síntese complexa de elementos vindos da razão e dos sentimentos, da natureza e da educação, do kantismo e do utilitarismo de Bentham.