Sr. morfeu, envenenador público

3569 palavras 15 páginas
Senhor Morfeu, Envenenador Público
Roger Gilbert-Lecomte

Se Claude Farrère – e possa ele jamais arrepender-se do que fez de melhor ao longo de sua carreira! Se Antonin Artaud e, principalmente, magnificamente, Robert Desnos, cada qual por seu turno, sozinho, trataram, sem tabu,do problema das drogas sobre o espírito após a promulgação da pouco inteligente lei de proibição (julho de 1916), nem tudo foi dito e o protesto não deve morrer: jamais será tão vivo como no momento presente para responder à diarreia jornalística documentário-moralizadora e principalmente policial sobre os “paraísos artificiais” (sic e resic e resic). Diários e hebdomadários, ilustrados ou não, maculam incessantemente suas colunas com reportagens retumbantes, feitas por escribas de todas as opiniões e de todos os sexos, sendo seu ponto em comum a profunda impotência em encarar corretamente uma questão sem dizer “amém” aos grosseiros preconceitos dos seus leitores. Que ele se apresente, este Petrônio dúbio sob a linha que “condena os vícios”, com um propósito menos abjeto do que o de condimentar seu texto com descrições truncadas dessas pretensas torpezas. O protesto aqui feito, certo de sua ineficácia, não visa resultado algum – apela simplesmente para a justiça desinteressada do espírito. Aqueles que, tanto neste caso como em outros, fazem questão de desorientar a opinião pública e alargar cada vez mais as fronteiras da idiotice, encontrarão aqui a expressão sincera do meu mais profundo desprezo.

Conforme o eixo do alto cilindro negro e brilhante, brincam de esconde-esconde e revoluteiam as visões fugidias vistas de soslaio; o pavor nos olhos das lebres orelhudas do medo. Sob o chapéu gigantesco, o Sr. Morfeu dissimula mais ou menos uma ausência de rosto. É dia, é noite; mas é sempre noite quando o Sr. Morfeu passa. Todas as polícias do mundo que o procuram jamais o encontrarão, por causa de seu porte, a tal ponto estranho, que o torna

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