Sophia de Mello Breyner Andresen
Nascida no Porto, Sophia de Mello Breyner Andresen viveu a sua infância entre esta cidade, Espinho e Miramar, marcando-a o mar e as imagens da miséria. O mar é o elemento da natureza que mais lhe é familiar, sendo a estética do aquático uma constante na sua lírica:
(…) a beleza natural é uma actualização do Belo que a poesia procura igualmente alcançar e realizar, e porque a arte poética de Sophia toma a natureza como principal fonte de inspiração. (…) A natureza marítima é aquela que parece exercer maior sugestão sobre a autora, talvez por ser a mais conotada de mistério, e ainda por estar ligada à ideia das origens da vida, do antigo, da civilização grega, e simultaneamente à do movimento progressivo para o futuro (…).».1
A poesia de Sophia tem como suportes o seu jardim familiar e uma praia da Granja, onde passou grande parte da sua infância e juventude. Estamos perante uma poeta independente, relativamente a escolas, mas, no seu mundo poético, fundem-se os anseios religiosos e as convicções ideológicas: «A sua voz, de uma pureza inexcedível, tensa e melódica, dá notícias de um mundo mítico e, sobretudo a partir de Livro Sexto, de um mundo dos homens dramático e dividido.».2 A sua poesia é busca no espelho do mundo – a poesia como perseguição do real, apreendido pelo olhar objectivo e uma busca atenta. Possui afinidades com Pascoaes e com as grandes odes de Álvaro de Campos, cuja linguagem continua – no Livro Sexto esboça um retrato-diálogo com Pessoa, louvando-lhe o «(…) canto justo que desdenha as sombras» («Fernando Pessoa»). No livro Dual, em sete poemas ao modo clássico, com o título «Homenagem a Ricardo Reis», segue a lição de Pessoa-Ricardo Reis. Versos longos que originam um ritmo próximo da prosa, a presença do decassílabo, o ritmo e o metro livres, acompanhando o pensamento e o devaneio, a pontuação mínima ou nula, de modo a não tolher a imaginação e o sonho, e a rima, que só pretende contribuir para