Sonho Espontâneo de Vários Tipos de Fruta Numa Só

Sonho Espontâneo de Vários Tipos de Fruta Numa Só

Acordei no dia de hoje. Hoje é presente, ontem foi futuro. Levantei-me com pensamentos da noite anterior mordiscando a minha massa cinzenta, mas com um pulo, saí do tapete onde durmo e decidi - hoje vai ser um presente consciente, enquanto o número oito deitado voava pela minha janela, colorido no duplo arco-íris que se formara com a chuva que me caiu dos olhos no futuro. Saí de casa, era um soldado. Estavamos em guerra permanente com um exército de melâncias. Rapidamente se absorveu a consciência e transformei-me sem pensar numa meloa. Nesse momento, senti-me estendido na minha forma redonda, numa bandeja cinzenta de prata, a ser cortado em bocadinhos para ser comido por pequeninas bocas famintas. Hoje não queria ser soldado, por sua vez meloa. Hoje não queria lutar, não queria. Mas não tive escolha - o presente escolheu por mim. De qualquer das formas, hoje era o nosso dia de ataque, e lá fui eu meloa marchar para a guerra contra as melâncias. Na nossa terra só temos uma catapulta bombardeira entre os dois exércitos, e por isso ás segundas, quartas, sextas e domingos de manhã era a nossa vez de ficar com a catapulta bombardeira, ao que ás terças, quintas, sábados e domingos á tarde eram elas, as melâncias que ficavam com a vez de atacar, e lá iamos assim partilhando a arma de guerra. Era quarta de manhãzinha aqui no presente, e tinha de ir eu á frente de batalha das possuídas para lhes pedir a catapulta emprestada, para as podermos bombardear, dentro do permitido horário de guerra. E assim íamos nós caminhando para um conflito peculiar a meu ver, em que um dia podiamos nós atacar e no seguinte dia atacavam-nos de volta com a mesma arma. Reparei ao fim de algum tempo nas defesas das melâncias, e comparei-as ás nossas. Eram horripilantemente desiguais durante os bombardeamentos, mas á noite, quando o horário de guerra fechava, e íamos cada um para seu lado descançar, os bombardeados recuperavam as forças