Soner cagaptay
Os radicais sempre vencem: entrevista com Soner Cagaptay
Duda Teixeira
Nos últimos meses, com o desenrolar das revoluções no Oriente Médio, a Turquia foi apresentada como um modelo possível e desejável para a região. O país, de população quase totalmente muçulmana, seria um exemplo perfeito de convivência exitosa entre valores democráticos e um governo sob o comando de um partido islâmico, no poder há quase uma década. A utopia turca, contudo, não se sustenta, segundo um de seus mais atentos e qualificados observadores: o historiador Soner Cagaptay, do Washington Institute, um centro de estudos sobre o Oriente Médio com sede nos Estados Unidos. Diz Cagaptay: "A Turquia é um modelo falso. A imprensa está acuada e os tribunais foram dominados pelo partido do governo. Os políticos do AKP dizem o contrário, mas suas políticas acabarão levando à criação de um estado islâmico". Muçulmano, Cagaptay cresceu e se formou em Istambul, antes de se mudar para os Estados Unidos, onde fez seu doutorado e deu aulas nas universidades Yale, Princeton e Georgetown. O historiador concedeu a seguinte entrevista, por telefone, de seu escritório, em Washington.
A democracia turca é um exemplo para as nações do Oriente Médio que estão se desfazendo de seus regimes ditatoriais?
Não. O modelo da Turquia é falso. Quando o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, do premiê Recep Tayyip Erdogan) chegou ao poder, em 2002, o país já tinha tradição democrática. Esse partido islâmico aceitou as regras da democracia apenas para eliminá-las em seguida, impondo o controle sobre os tribunais e pressionando a imprensa. O sistema de pesos e contrapesos, cuja função é estabelecer limites ao Poder Executivo, está sendo destruído na Turquia. Recentemente, o governo obteve o direito de indicar praticamente todos os juízes da Suprema Corre, sem a necessidade de aprovação no