Socrates
Delze dos Santos Laureano(1)
----------Os homens estão no poder, e entre eles Ânito, apelam à expiação pelo trabalho: que todos renunciem às ambições políticas, que replantem vinhas e oliveiras, que reconstruam barcos, que reabram minas, que reanimem indústrias e comércio, que refaçam o antigo poderio e prestígio da cidade. Agir é o que é preciso, pensar é um luxo.
----------Neste ambiente, Sócrates, que põe sempre tudo em causa e incita os seus discípulos a criticar os políticos da cidade, é um empecilho ao programa de governo. É urgente silenciá-lo e a acusação logo surge subscrita por Meleto, um poeta menor. Também por um orador, Lícon: Sócrates é culpado de não acreditar nos deuses pátrios e tentar introduzir novas divindades na cidade. Também é culpado de corromper os jovens. Pena proposta: a morte. Ânito está contente. Não pretenderá a morte de Sócrates. Conta que, durante o processo, o velho filósofo venha a rogar o auto-exílio ou a comprometer-se ao silêncio. É quanto lhe basta, mas tudo vai desandar.
----------Julgamento em praça pública. Os guardas mal contêm a multidão. 501 juízes escolhidos por sorteio. [...] O primeiro a tomar palavra é Meleto, acusação incolor. Em contrapartida, as de Lícon e Ânito são brilhantes, com recurso a todos os princípios da retórica. Os juízes inclinam-se contra o réu...A sentença é finalmente proferida: a morte. [...] Na antevéspera da execução, Críton, velho amigo, convida Sócrates a fugir, será fácil subornar os carcereiros. Sócrates recusa. Os cidadãos condenados injustamente podem fugir à sanção da lei? Tem ele o direito de ser injusto, por sua vez? De, com a sua fuga, dar um exemplo de desordem? De pagar o bem que recebeu da cidade com a fuga às suas leis?
----------Diz Sócrates: Críton, não interessa viver, mas viver bem. Nunca se deve cometer uma injustiça, mesmo em retribuição do mal sofrido. À morte. Sem sobressaltos, Sócrates bebe a taça de cicuta até ao fim. Os