Sociologia Dual
DE ROBERTO DA MATTA:
Descobrindo nossos mistérios ou sistematizando nossos auto-enganos?
Jessé Souza
Apesar das observações críticas que serão desenvolvidas no decorrer deste artigo, quero, antes de tudo, ressaltar a relevância da obra de
Roberto Da Matta para a ciência social brasileira.
Obra que se destaca pelo potencial inovador e pela centralidade da reflexão filosófica, seja na indagação acerca dos pressupostos da teorização científica, seja no questionamento radical do que constitui a singularidade de uma formação social.
Ao tentar descobrir “o que faz o brasil, Brasil”, Da Matta propõe o questionamento de temas tais como o que é indivíduo?, o que é democracia?, o que são relações sociais?, como se compara sociedades? e, acima de tudo, como se percebe aquelas diferenças históricas e culturais que conferem uma especificidade toda própria a cada sociedade singular? Essas questões são essenciais posto que remetem a uma reflexão de pressupostos, permitindo a discussão daquelas indagações primordiais que, numa concepção de ciência “pragmática” e empiricista, já estão respondidas a priori.
E sabemos que é precisamente a expansão do espaço da reflexividade que caracteriza a atitude científica e é a discussão dessas questões primordiais que permitem o pensamento crítico e inovador.
O dilema brasileiro para Roberto Da
Matta
No caso de Da Matta, o fio condutor mesmo de sua reflexão já apontava para o desejo de surpreender a realidade brasileira por detrás de suas auto-imagens consagradas. Assim, em Carnavais, malandros e heróis (Da Matta, 1981), seu livro mais importante, essa tentativa é empreendida a partir do estudo do cotidiano brasileiro, no estudo dos seus rituais e modelos de ação portanto, que é onde podemos reencontrar nossos malandros e nossos heróis.
Desde o início, o esforço comparativo já tem o seu “outro” privilegiado: os Estados Unidos. Interessa a Da Matta demonstrar, numa oposição que irá