Sociologia das ausencias
Boaventura de Sousa Santos
Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências*
Introdução
O presente capítulo sumaria a reflexão teórica e epistemológica a que me conduziu um projecto de investigação com o título «A reinvenção da emancipação social» por mim recentemente dirigido. Este projecto propos-se estudar as alternativas à globalização neoliberal e ao capitalismo global produzidas pelos movimentos sociais e pelas organizações não governamentais na sua luta contra a exclusão e a discriminação em diferentes domínios sociais e em diferentes países. O principal objectivo do projecto foi determinar em que medida a globalização alternativa está a ser produzida a partir de baixo e quais são as suas possibilidades e limites. Escolhi seis países, cinco dos quais semiperiféricos, em diferentes continentes. A minha hipótese de trabalho foi que os conflitos entre a globalização neoliberal hegemónica e a globalização contra-hegemónica são mais intensos nestes países. Para confirmar esta hipótese, seleccionei também um dos países mais pobres do mundo: Moçambique. Os seis países escolhidos, para além de Moçambique como país periférico, eram a África do Sul, o Brasil, a
Colômbia, a Índia e Portugal. Nestes países, identificaram-se iniciativas, movimentos, experiências, em cinco áreas temáticas em que mais claramente se condensam os conflitos
Norte/Sul: democracia participativa; sistemas de produção alternativos e economia solidária; multiculturalismo, direitos colectivos, pluralismo jurídico e cidadania cultural; alternativas aos direitos de propriedade intelectual e biodiversidade capitalistas; novo internacionalismo operário.
Como parte do projecto, e com a intenção de identificar outros discursos ou narrativas sobre o
2 mundo, realizaram-se extensas entrevistas com activistas ou dirigentes dos movimentos ou iniciativas sociais analisados.1 O projecto levou a uma profunda reflexão epistemológica de que resultou o presente