Sociedade/ estado
José Carlos Reis( Departamento de História/UFMG)
1 - Sobre as Relações entre Tempo Histórico e Conhecimento Histórico: uma Hipótese
As questões que guiarão a nossa reflexão poderiam ser assim formuladas: o que diferencia em profundidade as diversas "escolas" ou "programas" históricos? Qual a diferença profunda entre a história filosófica e literária, as escolas históricas metódica, historicista, marxista e dos Annales? O que seria uma "nova escola" em oposição a uma "escola tradicional"? Em que pode uma escola ser "nova" ou "ultrapassada"? Costuma-se definir essa diferença como uma "diferença de método": novos objetos, novas fontes, novas técnicas, novos conceitos, novas instituições e obras e historiadores-modelo. Mas, esses elementos acima, importantes sem dúvida para a definição do "novo" e do "ultrapassado" em história, não seriam apenas o lado mais visível do método? A "diferença profunda", que esses elementos revelam e sem a qual não existiriam, não exigiria uma reflexão sobre o método também em maior profundidade? Eis a nossa hipótese, em uma primeira formulação: a base profunda de um método histórico é uma "representação do tempo histórico" e é esta representação que diferencia as diversas escolas e programas históricos. Os conceitos "tradicional", "utrapassado", "novo" já revelam esse substrato temporal. Uma escola histórica só pode se apresentar como "nova" se apresenta uma outra e original representação do tempo histórico. Optar por uma ou outra escola histórica não é meramente optar por objetos e técnicas ou obras-historiadores modelos. A justificativa da escolha é mais profunda: opta-se por um registro da temporalidade. Para sustentar essa proposta, e antes de tratar da inovação temporal que os Annales representaram, iremos a Heródoto de Halicarnasso, o descobridor do tempo dos homens.
Os gregos, os criadores da história, tinham